Fogo no Parque Juquery, não foi por acaso.
“A natureza” é sempre pensada pelas pessoas como algo distante, quando falamos de protegê-la. No domingo de 22 de agosto de 2021, no entanto, os ventos trouxeram o pedido de socorro da natureza para dentro das nossas casas em São Caetano e outras cidades da Grande SP. Fuligens que viajaram por mais de, no mínimo, […]
23 ago 2021, 18:45 Tempo de leitura: 3 minutos, 18 segundos“A natureza” é sempre pensada pelas pessoas como algo distante, quando falamos de protegê-la. No domingo de 22 de agosto de 2021, no entanto, os ventos trouxeram o pedido de socorro da natureza para dentro das nossas casas em São Caetano e outras cidades da Grande SP. Fuligens que viajaram por mais de, no mínimo, 38 km, vindas de um enorme incêndio no Parque Estadual do Juquery, na cidade de Franco da Rocha.
Depois de mais de 24 horas, focos de incêndio seguiam queimando tudo. Mais de 64% da área do Parque foi queimada. Mais de 100 pessoas, entre bombeiros, polícia ambiental e brigadistas voluntários entraram em luta para conter essa tragédia criminosa. As notícias dos jornais dão conta de que o início do fogo foi a queda de um balão. Um crime ambiental com multas que dobraram esse ano, sendo a mínima de 10 mil por balão, com a detenção de todos os envolvidos. Mesmo assim, essa cultura criminosa segue como um dos maiores problemas naquela região de Franco da Rocha e parece ter certa conivência de quem tem mais poder, afinal, os baloeiros ligados a esse incêndio do Parque foram liberados após pagar fiança de míseros 3 mil reais.
Mas é importante dizer que o tempo seco e a falta de chuvas foram fundamentais para que o fogo se alastrasse. O crime das mudanças climáticas não tem um autor apenas. Além disso, o descaso do governo: não há plano suficiente para conter incêndios como esse. O Estado possui a Operação Corta Fogo, mas ainda é insuficiente. Seria necessário um trabalho consistente de conscientização da sociedade, com amparo da devida aplicação das leis.
A prefeitura de Franco da Rocha já anunciou que centenas de animais foram vistos correndo do fogo, fugindo para estradas e cidades vizinhas. Muitos já morreram carbonizados e muitos dos que fugiram certamente foram ou serão atropelados ou mortos pelos homens por, desnorteados, “invadirem” áreas dominadas por humanos. Além de brigadistas, veterinários voluntários estão sendo requisitados, na tentativa de cuidar dos animais que conseguirem resgatar. No entanto, as notícias são de que a maioria está sendo encontrada já em óbito.
Dia de perdas irreparáveis para a fauna e a flora do estado de São Paulo / do Brasil. Imaginem todo o material genético perdido de vegetação e microorganismos!
O Parque Estadual do Juquery é a única mancha de cerrado da região metropolitana de SP e possui espécies endêmicas da flora e fauna desse bioma. Todo ano o Juquery é alvo de incêndios na época de seca, causados criminosamente, devido à sua proximidade com a área urbana.
Não há como observar tudo isso acontecendo sem lembrarmos que o governo Bolsonaro, desde seu primeiro dia no poder, trabalha para que investimentos na área do meio ambiente sejam retirados e órgãos de fiscalização e proteção sejam desmontados.
Tudo isso faz parte de uma política ecocida que beneficia propositalmente esse tipo de tragédia, já que terras devastadas acabam sendo tomadas por exploradores de todo tipo, como pecuaristas, por exemplo.
Dentre a população que elege esse tipo de governo e acha a proteção ambiental uma grande bobagem, alastram-se culturas como as dos baloeiros, caçadores, defensores de rodeios, e todas as outras que acreditam que a natureza está a nosso serviço e que não há consequências em destruí-la.
As pessoas que estão respirando o ar das queimadas estão vendo a prova contrária disso. Infelizmente, quem pagou fiança e foi liberado nesta madrugada para dormir tranquilamente enquanto o fogo consome o parque, não.
Quando as cinzas de uma queimada chegam tão longe, como o que aconteceu hoje, temos a prova concreta de que está tudo conectado. A “natureza” é aqui.