Maior número de mortes por 100 mil habitantes da Grande SP? Cidade que mais vacina do estado? Um debate sério sobre os dados da covid-19.

“A cidade que mais vacina no estado e no Brasil” essa frase, ou algo muito parecido com ela, é dita frequentemente pelo prefeito interino Tite Campanella (Cidadania) e por seus apoiadores, seja na Câmara ou nas redes sociais. Do outro lado, a base dos apoiadores do ex-candidato Fábio Palácio (PSD) divulgou amplamente que São Caetano é “a cidade com o maior número de mortes por 100 mil habitantes da Grande SP”.

As duas frases são ótimas para manchete nos jornais, para engajar apoiadores nas redes e manter acesa a disputa entre dois grupos da elite política pela Prefeitura. Isso mesmo, o cenário ainda é de muitas incertezas, mas novas eleições devem ocorrer (pouco se sabe ainda de quando) e esses dois grupos entrarão em disputa novamente. Nós do PSOL temos a certeza que nenhum dos dois lados é uma representação verdadeira dos direitos do povo, das mulheres, da negritude, da juventude, das LGBTs e das trabalhadoras e trabalhadores.

Depois dessa breve caracterização política vamos aos fatos: primeiro a frase dos apoiadores do governo é completamente mentirosa, São Caetano não é nem proporcionalmente (figura na 13ª posição segundo o portal Vacinômetro do Governo do estado de São Paulo no dia 07 de abril) e muito menos no número absoluto (no mesmo dia, estava na 20ª posição) a cidade que mais vacina no estado. Isso significa que estamos vacinando devagar? De alguma maneira, e por todos os erros do governo federal, sim estamos. Estamos vacinando devagar em comparação com outros municípios? Não, não estamos, no geral, a cidade realmente vacina muito rápido a partir das doses que recebe dos governos estadual ou federal e também atualiza o portal Vacinômetro com celeridade.

Mas a quantidade de vacinação é uma métrica adequada até o momento? A quantidade de vacinados- com exceção de casos muito fora da curva- pouco quer dizer da qualidade de um governo municipal, como o governo quer fazer parecer toda vez que utiliza esse dado (falso) de maneira propagandística. Por quê? Porque a a única fonte de vacinas são os repasses dos governos estadual e federal via Plano Nacional de Imunização e isso está diretamente vinculado ao perfil demográfico da cidade, ou seja, São Caetano vacina mais porque recebe mais vacina dos governos estadual e federal, não porque teve melhor capacidade de negociação ou qualquer coisa do tipo, mas essencialmente porque tem um maior peso de grupos prioritários da sua pirâmide demográfica. Vejamos os dados disponíveis no próprio Plano Municipal de Imunização da cidade (que demorou muito para sair e só foi publicado após muita pressão do nosso mandato):

• Pessoas com mais de 60 anos: Rio Grande da Serra (11,84%), Diadema (12,1%), Mauá (12,66%), São Bernardo do Campo (15,29%), Ribeirão Pires (16,45%), Santo André (18,34%) e São Caetano do Sul (24,21%). A média do estado é de 15,71%.

Ou seja, nem é verdade que São Caetano é a que mais vacina no estado e nem a quantidade de doses aplicadas tem muito a ver com a capacidade do governo municipal. Mas agora vamos para a outra afirmação.

São Caetano lidera o ranking de mortes por 100 mil habitantes? Essa informação foi divulgada pelo portal Agora da Folha de São Paulo e, sim, é verdade. Mas é uma verdade que explica pouco a situação. Por quê? A defesa da Prefeitura sobre esse dado é: temos uma população muito envelhecida, logo mais propensa a morte por covid-19, e muito adensada, logo, mais propensa ao contágio. As duas coisas realmente são verdades, nossa cidade é altamente verticalizada e com muita gente em pouco espaço o que faz com que, por exemplo, contágios em elevadores, halls de prédios, supermercados, padarias e etc sejam bem maiores.

Mas uma leitura mais atenta da reportagem mostra a fragilidade do argumento de colocar tudo na conta desses dois fatores. Vejamos: excluída a população com mais de 60 anos, São Caetano fica na 13ª posição na Grande SP, isto é, seguimos tendo mais mortes que cidades como: Suzano, Taboão da Serra, Ferraz de Vasconcelos, Ribeirão Pires, Diadema, Rio Grande da Serra, Mairiporã e a própria capital São Paulo, cidades com evidente menor infraestrutura comparada nos serviços de saúde, mas também de controle da disseminação do coronavírus.

Agora, se a Prefeitura sabia dessas informações, das condições demográficas da sua própria população, por que flertar tanto com o negacionismo? Por que tentar voltar para a fase laranja na justiça em um momento de piora no quadro da pandemia? Por que voltar com as aulas presenciais de maneira isolada na região? Por que ser tão frouxo na fiscalização de aglomerações ilegais? Por que não criar uma renda básica municipal que garanta que as pessoas fiquem em casa? Ora, se a cidade sabe que tem uma população significativa de idosos, a gestão deveria ser a que mais se preocupa em adotar medidas mais eficazes na contenção da pandemia.

O que queremos mostrar é que: sim as condições da própria cidade nos colocam no topo da lista, mas também são as decisões do próprio governo que nos deixam longe de uma situação melhor.

A análise dos dados da vacinação e da covid precisam ser analisados com seriedade, elas mostram um cenário bastante difícil e de que é sim possível fazer muito mais do que tem sido feito pelo governo local. Os problemas estão no Paço Municipal e, principalmente, em Brasília.

                Fontes:
                São Caetano lidera ranking de mortes por 100 mil habitantes na Grande SP; veja a lista. Agora, Folha de São Paulo. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2021/03/sao-caetano-lidera-ranking-de-mortes-por-100-mil-habitantes-na-grande-sp-veja-a-lista.shtml

                Vacinômetro. Governo do estado de São Paulo. Disponível em: https://vacinaja.sp.gov.br/vacinometro/

                Plano Municipal de Imunização. Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: https://coronavirus.saocaetanodosul.sp.gov.br/images/2021/download/plano-municipal-de-imunizacao-covid-19_1702021.pdf