Só a luta muda a vida!
A vitória das trabalhadoras e trabalhadores da educação contra o retorno presencial das aulas. Por: Fernanda Gomes.
26 mar 2021, 15:27 Tempo de leitura: 4 minutos, 3 segundosNessa semana o governo do Estado de São Paulo anunciou o início da vacinação prioritária de covid-19 para as trabalhadoras e os trabalhadores da educação de todo o estado. Essa notícia foi um marco na luta de toda a categoria durante a pandemia até aqui.
No início do ano foi anunciado o retorno às aulas presenciais no momento em que se indicava a pior fase da pandemia no país. Todas as trabalhadoras e trabalhadores da educação alertaram para o perigo iminente desse retorno presencial: o colapso do sistema de saúde era uma tragédia anunciada!
As aulas retornaram presencialmente, ignorando todos os alertas e preocupações de quem vive o dia a dia das escolas, já que o governador João Dória não podia abrir mão de dialogar com um campo muito importante para sua possível eleição em 2022: as escolas particulares. Juntamente às igrejas, esse é um setor muito caro para financiar a sua campanha, e, portanto, o governador decidiu fechar os olhos para a realidade das escolas públicas brasileiras, bem como para a realidade do próprio trabalhador.
Já no começo do retorno pôde-se ver um aumento nos casos de contaminação, afinal, as escolas públicas brasileiras possuem estruturas precárias que os educadores denunciam há tempos. Falta ventilação adequada dentro das salas de aulas superlotadas (muitas vezes as salas não têm sequer janelas), falta papel higiênico, sabonete e álcool em gel – dentro das escolas faltam até funcionários. É foi nesse cenário inviável de aplicar protocolos sanitários que os governantes quiseram o retorno presencial, ignorando o fato de que cumprir tudo isso já é difícil e, somando-se crianças nesse enredo, torna-se impossível. Além disso, a comunidade escolar é composta por muitas pessoas, entre estudantes, funcionários, pais e responsáveis, e assim todas essas pessoas voltaram a circular dentro dos transportes públicos para chegar até a escola, um ambiente insalubre no momento da pandemia, e depois retornarem para casa levando o vírus para suas famílias.
A contaminação foi aumentando progressivamente e muitos trabalhadores e sindicatos começaram a fazer seus próprios boletins diários de contágio, já que as secretarias de educação estavam tentando manter a aparência de normalidade. Os protocolos de afastamento para casos confirmados de covid-19 se apresentavam de uma forma no papel e de outra na prática. Cada escola estava decidindo no calor do momento o que fazia com seus funcionários, como comunicava à comunidade escolar um caso positivo dentro da unidade, e com essa desordem somada ao cenário, como era de se esperar, os casos foram aumentando.
Educadores se uniram num coro único de suspensão das aulas presenciais enquanto não houvesse vacina para todos. As trabalhadoras e os trabalhadores se manifestaram de muitas formas: nas escolas, nas redes sociais, nas ruas, e nas greves, em uma tentativa de preservar vidas que corria contra o tempo. A categoria estava abandonada pelo poder público e lutando por sobrevivência: sua e de todos que também utilizam o sistema de saúde. Enfim veio o decreto: aulas presenciais suspensas no estado de São Paulo.
A luta dos trabalhadores da educação teve êxito! Professores, auxiliares de primeira infância, inspetores de alunos, merendeiras, serventes provedores, enfim, todos da educação conseguiram em luta mostrar a realidade caótica em que se encontravam e pressionar para o fechamento das escolas.
Toda essa luta se deu também em São Caetano do Sul. O prefeito interino da cidade, Tite Campanella, decidiu seguir o calendário estadual de retorno presencial, mesmo tendo autonomia, junto à secretaria de educação, para traçar seu próprio plano. Mas infelizmente o cenário foi o mesmo. Só depois de muita luta é que foram canceladas as aulas presenciais no município.
E agora, duas semanas após a suspensão das aulas presenciais, vem a notícia: parte dos profissionais da educação inseridos com prioridade no calendário de vacinação contra a covid-19. Essa é uma vitória gigantesca da categoria, que se mostrou unida em momento de dor e necessidade.
Sabemos que temos muito pela frente, a vacinação tem que ser para toda a população, já que só assim atingiremos a tão esperada imunidade de rebanho contra o vírus, e então poderemos retornar com segurança às aulas presenciais: não podemos e não devemos aceitar o retorno às escolas antes disso. Mas por ora, comemorar a vitória das trabalhadoras e dos trabalhadores da educação é reconhecer a força e importância da luta coletiva, e usar de exemplo a união e combate nos desafios que se apresentam diariamente contra a classe trabalhadora.